O “Teatro das Tesouras” é uma estratégia política que cria a ilusão de uma oposição ideológica entre dois grupos que, na prática, servem ao mesmo projeto de poder.
No Brasil, essa estratégia se manifesta na alternância de poder entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
Essa alternância, longe de representar uma verdadeira disputa política, é, segundo Olavo de Carvalho, uma forma de “controlar a oposição”, mantendo a hegemonia sobre o discurso político e afastando qualquer possibilidade de uma oposição genuína ganhar força.
Neste artigo, exploramos as raízes históricas dessa estratégia, sua aplicação no Brasil e as implicações para a democracia.
A Estratégia de Lênin e Stalin: Contexto Histórico
Para compreender o “Teatro das Tesouras”, é necessário voltar ao período pós-Revolução Russa, quando Lênin e Stalin empregaram táticas que simulavam a existência de uma oposição política para controlar melhor o cenário ideológico.
Lênin introduziu a ideia de uma dualidade controlada, onde facções que pareciam rivais, na verdade, trabalhavam em conjunto para manter o poder centralizado.
Stalin, que consolidou seu poder após a morte de Lênin, levou essa estratégia a um novo patamar.
Ele eliminou qualquer oposição real e transformou o que restava em um espetáculo controlado, destinado a legitimar seu regime.
Como aponta Olavo de Carvalho, “Stalin aperfeiçoou a técnica ao ponto de transformar qualquer oposição em mera peça de teatro, destinada a legitimar o regime que ele próprio controlava.”
Essa estratégia foi essencial para manter o controle centralizado, projetando ao mesmo tempo uma imagem de pluralismo e diversidade política.
O regime soviético, assim, conseguia aparentar uma democracia, enquanto na realidade eliminava qualquer ameaça ao seu poder.
Essa tática de manipulação do espectro político serviu de modelo para diversas outras situações, onde a aparência de um debate democrático é mantida enquanto o controle efetivo é exercido por uma única ideologia dominante.
O Teatro das Tesouras no Brasil
No Brasil, a partir de 1994, a alternância de poder entre o PT e o PSDB passou a dominar o cenário político.
A princípio, esses dois partidos pareciam representar polos opostos: o PT como um partido de esquerda, com forte apoio sindical e popular, e o PSDB como uma aparência mais “moderada”.
No entanto, à medida que o tempo passou, ficou claro que ambos os partidos seguiam diretrizes políticas muito semelhantes, especialmente em áreas como economia e administração pública.
Essa convergência de políticas levou Olavo de Carvalho a sugerir que a alternância entre PT e PSDB é uma versão moderna do “Teatro das Tesouras”.
Olavo argumenta que essa estratégia “serve para simular um confronto ideológico, quando na realidade ambas as forças políticas estão unidas em um projeto comum de poder”.
O efeito dessa estratégia é a marginalização de qualquer oposição verdadeira, mantendo o controle sobre o espectro político.
Ao criar a ilusão de uma disputa entre dois polos, a estratégia desvia a atenção da população de possíveis alternativas políticas que poderiam representar uma mudança real.
Essa manipulação do cenário político brasileiro é vista por Olavo como uma forma de perpetuar o controle esquerdista sobre o país, mesmo quando o partido no poder muda.
O “Teatro das Tesouras” não apenas limita a verdadeira diversidade ideológica, mas também mina a confiança do público no sistema democrático.
Ao perceberem que as mudanças no governo não trazem mudanças substanciais nas políticas, os eleitores se tornam cínicos em relação à política e desencantados com a democracia.
Consequências para a Democracia Brasileira
A aplicação do “Teatro das Tesouras” no Brasil teve profundas consequências para a democracia.
A falsa polarização entre PT e PSDB cria a ilusão de escolha, mas, na prática, limita severamente a diversidade ideológica e sufoca a emergência de novas vozes e alternativas políticas.
Olavo de Carvalho observa que “a manipulação do espectro político impede a emergência de uma oposição genuína, empobrecendo o debate público e minando a democracia”.
Essa falta de uma oposição real e a convergência das políticas dos dois principais partidos resultam em uma democracia enfraquecida, onde o debate político é superficial e centrado em questões que não ameaçam o status quo.
Além disso, a estratégia do tesouras contribui para o desencanto do público com a política.
Muitos eleitores percebem que, independentemente de quem esteja no poder, as mudanças substanciais são poucas ou inexistentes.
Isso leva a um sentimento de impotência e à percepção de que o sistema político está corrompido ou manipulado, o que pode resultar em apatia política ou em um desejo por soluções extremas.
Essa situação é ainda mais preocupante quando consideramos o impacto a longo prazo.
A ausência de uma oposição verdadeira permite que o poder se consolide cada vez mais nas mãos de um grupo restrito, reduzindo a possibilidade de uma mudança genuína.
Com o tempo, essa concentração de poder pode levar a um autoritarismo disfarçado de democracia, onde as eleições ocorrem, mas as opções reais de mudança são inexistentes.
Conclusão
O “Teatro das Tesouras” no Brasil, conforme analisado por Olavo de Carvalho, oferece uma visão crítica sobre a natureza da democracia e da alternância de poder no país.
A teoria levanta questões importantes sobre a autenticidade do debate político e a diversidade ideológica disponível aos eleitores.
Entender essa estratégia é crucial para “resgatar a saúde da democracia”, garantindo que o debate político seja verdadeiramente representativo das diversas correntes ideológicas presentes na sociedade.
Para Olavo, desmascarar o “Teatro das Tesouras” é o primeiro passo para uma renovação política no Brasil, onde a verdadeira oposição possa emergir e oferecer alternativas reais ao eleitorado.
Essa análise convida os leitores a refletirem sobre como o poder é exercido e como as narrativas políticas são construídas e manipuladas no Brasil contemporâneo.
O desafio é criar um ambiente onde o debate político seja genuíno, e onde os eleitores possam escolher entre alternativas reais, e não apenas entre diferentes faces do mesmo projeto de poder.
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